domingo, 27 de janeiro de 2013

A anta é mesmo um bicho muito inteligente


A anta é mesmo um bicho estúpido?

De jeito nenhum. "Provavelmente, a relação que se faz entre o nome do animal e uma pessoa pouco inteligente se deva às peculiares características físicas da anta", diz o zoólogo Mario Rollo, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP). De fato, a anta - também conhecida em algumas regiões como tapir - é um bicho muuuito estranho. Ela tem o corpo de um porco, cascos de boi, orelhas de cavalo e um focinho que lembra uma pequena tromba de elefante. A esquisitice não pára por aí. Suas patas traseiras têm três dedos e as dianteiras, quatro. Mas, apesar dessa aparência um tanto frankensteiniana, ela não é um bicho nada bobo. Há relatos de antas domesticadas que conseguiam até mesmo abrir maçanetas de portas. Na mata, ela é um bicho bastante tímido, que costuma demarcar o seu território com urina. Em linguagem indígena, anta quer dizer grande animal que abre caminho na mata.

Isso porque, quando perseguida, ela corre desenfreadamente, derrubando as pequenas árvores e arbustos que aparecem pela frente. Considerada o maior mamífero da América do Sul, a anta (Tapirus terrestris) pode pesar 200 quilos e atingir 2 metros de comprimento e 1 metro de altura. Existem quatro espécies conhecidas: três na América do Sul (anta terrestre, anta-de-Baird e anta-da-montanha) e uma na Ásia (anta asiática).

Com muitos neurônios, as antas são animais extremamente inteligentes
A anta é um animal solitário que precisa de grandes áreas para viver. É o maior mamífero terrestre da América do Sul.


Grande, pesada e com um focinho que mais parece uma pequena tromba. Assim é a simpática anta, um animal que no Brasil pode ser visto no cerrado, na Mata Atlântica, na Amazônia e no Pantanal. Visto é maneira de falar; não é fácil nos depararmos com uma anta pela frente.


A anta é um animal solitário que precisa de grandes áreas para viver. É o maior mamífero terrestre da América do Sul. Os pesquisadores já sabem que a anta é fundamental para conservar a vegetação nativa. Por isso essa espécie é chamada de a jardineira das florestas.

“Ela come oito, nove quilos de alimento por dia. Muito disso é fruto. Quando ela engole os frutos, engole a semente e aí ela defeca. Só que o bicho anda enormes distâncias. Então ela é uma super dispersora de sementes, e a gente costuma chamá-la de a jardineira da floresta”, explica a engenheira florestal Patrícia Médice, do Instituto de Pesquisas Ecológicas.

Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas ficaram 15 anos estudando as antas na Mata Atlântica. Agora querem fazer o mesmo no Pantanal. Para viver, uma única anta precisa de uma área maior que 500 campos de futebol. Desmatamento, caça e atropelamentos são ameaças que deixaram a espécie vulnerável à extinção.

“É um animal que tem um ciclo reprodutivo muito longo. Gestação, 14 meses, nasce um único filhotinho que pode sobreviver ou não, tem predador, tem doença, uma série de coisas”, alerta Patrícia.

O Pantanal é um mundo inesgotável para os pesquisadores. Um bioma que só em território brasileiro ocupa mais de 150 mil quilômetros quadrados. Pássaros, peixes, répteis... só de mamíferos, já foram identificadas 152 espécies. Um trabalho exaustivo. A dócil capivara, o maior mamífero roedor, é um dos animais que encontramos com mais facilidade na região.

“Porque é um animal que reproduz mais vezes durante o ano, que reproduz uma ninhada maior, que anda em grupo. Então você vai encontrar sempre bandos grandes de capivara”, diz o biólogo Manoel dos Santos Filho, da Universidade de Mato Grosso.

Famílias inteiras, e às vezes até mais de uma, são vistas sempre na beira dos rios e dos lagos, onde, por hábito, elas vivem e se alimentam. São herbívoras por natureza.

A equipe do Globo Repórter flagrou o momento em uma família inteira de capivaras posam ao lado dos jacarés. Não é sempre que isso acontece. Os jacarés, assim como as onças, são predadores das capivaras.
“Eles estão calmos ali, em um momento de relaxamento. É uma trégua”, compara Manoel dos Santos.
Um momento raro, em que os jacarés, provavelmente, estão bem alimentados. Um pouco mais adiante, nos deparamos com uma situação bem diferente: o jacaré tinha acabado de matar uma capivara e passeava com ela de um lado para outro no rio exibindo a presa.

Em uma das áreas mais preservadas do Pantanal, os pesquisadores querem saber quais são os mamíferos que vivem no local. Uma das técnicas usadas para este levantamento é a armadilha fotográfica.

“O sensor aqui, na presença de um mamífero, que é sangue quente, vai ativar a máquina fotográfica e vai tirar uma foto”, explica Manoel dos Santos Filho.

As máquinas fotográficas são instaladas onde os pesquisadores acreditam que os animais façam suas trilhas. E, para atraí-los, usam alguns artifícios, como um aparelho que imita o som de um bicho sendo atacado. É uma música para os carnívoros. Quando o animal descobre onde está a máquina, o estrago é inevitável.
No coração do Pantanal, na fazenda Baía das Pedras, os registros revelam trilhas movimentadas. A especialista em ecologia e conservação confere as câmeras todos os dias. ”Aqui tem uma estrada de anta. Saiu do mato”, diz Patrícia.

Estamos no caminho certo. “Na verdade, você sempre vê a pegada de trás porque o pé de trás sempre pisa na pegada do da frente, então você nunca vê uma pegada de pé direito”, acrescenta a especialista.

As fezes também são analisadas para saber o que as antas comem, se estão bem de saúde e também para traçar o grau de parentesco pelo teste de DNA. Mas capturar o bicho não é fácil. Um macho caiu na armadilha e já foi sedado. Um lenço é usado para evitar o estresse.

Os pesquisadores coletam amostras de sangue, saliva, pele e até de carrapatos. Anotam as medidas e instalam o colar. É ele que vai indicar os lugares e a área que a anta vai percorrer. Vinte minutos depois, a anta é despertada. Mesmo tonta, sai em disparada.

Muitos dados ainda serão examinados. Mas os pesquisadores descobriram algo surpreendente: ao contrário do que se pensa no Brasil, a anta é muito inteligente.

“Foram feitos cortes no cérebro de antas mortas para fazer contagem de neurônios. E foi descoberto que este animal tem uma concentração de neurônios gigantesca, o que que é um animal extremamente inteligente. Já foi feita uma comparação com elefante. Sabe aquela história do ditado, memória de elefante? Foi feito com elefante e o resultado foi o mesmo: enorme concentração de neurônios, ou seja, um bicho que é extremamente inteligente, tem uma super memória, lembra de tudo. A anta é a mesma coisa”, diz a pesquisadora.

As antas desenvolvem um modo de vida diferente em cada bioma. O projeto dos pesquisadores é ambicioso. Depois da Mata Atlântica e do Pantanal, eles querem ir para o cerrado e a Amazônia. E, assim, quem sabe, conseguir monitorar todas as antas brasileiras.

“Daqui a alguns anos, a gente vai poder dizer com bastante propriedade qual o estado de conservação desse animal em cada um desses biomas onde ela ocorre e o que precisa ser feito para conservá-la em cada um deles”, conclui Patrícia.



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