segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Caça. Recomeça temporada de matança a golfinhos no Japão

TÓQUIO - O principal personagem do filme "The Cove" - documentário sobre a matança de golfinhos no Japão que ganhou o Oscar de 2010 - decidiu não ir à cidade de Taiji este ano para acompanhar a temporada de caça dos cetáceos, que acontece a partir de setembro no Japão. Ric O'Barry, um ex-treinador que se transformou no principal nome da campanha contra a captura e matança dos golfinhos, foi alvo de ameaças de morte de grupos da extrema direita japonesa, que consideram o filme uma ofensa ao país. Para evitar violência, o ativista contou que preferiu seguir o conselho da polícia local e não pisar em Taiji. A pequena cidade de 3.400 habitantes, no entanto, está sendo monitorada por outros grupos ambientalistas e pela imprensa, mas O'Barry admite que talvez a pressão apenas irrite ainda mais os pescadores.

- Talvez seja a hora de recuar e deixar os japoneses enfrentarem esse problema e abraçarem essa causa - disse o ativista em Tóquio, onde faz campanha para evitar a matança a golpes de arpão, registrada de forma impressionante no documentário de Louie Psihoyos, um fotógrafo da "National Geographic".





Os pescadores de Taiji alegam que matar golfinhos e comer sua carne é uma tradição milenar, mas O'Barry - o homem que treinou os golfinhos da série "Flipper" antes de virar um ativista - não aceita essa explicação. Segundo ele, a prática só começou em 1933 e, além disso, o fato de a carne de golfinho ser contaminada por mercúrio, como mostra o documentário, deveria pesar mais do que qualquer questão cultural.

- A carne já foi retirada da merenda escolar das crianças de Taiji por causa da contaminação, mas continua sendo vendida no mercado sem nenhuma advertência. Isso deixou de ser uma campanha de proteção dos animais para se tornar um problema de direitos humanos. Os japoneses têm o direito de saber o que estão comendo - defendeu.

O ex-treinador, no entanto, condenou a tática de grupos como o Sea Shepherd, que persegue a frota japonesa no Ártico para impedir a caça de baleias, o que já levou a choques em alto-mar. Membros da organização estão em Taiji, mas O'Barry teme que seus métodos sejam contraproducentes.

- Nós precisamos trabalhar com os japoneses e não contra eles - afirmou, acrescentando que "The Cove" não é um filme contra o Japão. - O povo de Taiji é inocente. A matança é feita por uma minoria. São 13 barcos, com dois homens em cada um. Estamos falando de 26 caras que conseguiram denegrir a imagem de um país - declarou.


Por enquanto, não há sinais de sangue nas águas de Taiji neste início da temporada de caça, mas ativistas relataram a captura de pelo menos 20 golfinhos nos últimos dias, que provavelmente serão vendidos a parques aquáticos. A cada ano, cerca de 1.500 cetáceos são mortos na região, a sete horas de trem de Tóquio. Na capital japonesa, O'Barry entregou à Embaixada dos EUA uma petição pelo fim da caça com 1,7 milhão de assinaturas de 151 países. O ex-treinador quer que o governo americano pressione o Japão a proibir a prática, mas apesar de "The Cove" ter mostrado ao mundo o que acontece na isolada baía de Taiji, o assunto ainda não é um debate de grandes proporções entre os japoneses.

A Cova é um exemplo surpreendente de jornalismo investigativo com o coração de um thriller de ação. Liderados por Louie Psihoyos, líder da Sociedade de Preservação do oceano, e O’Barry Richard, uma autoridade reconhecida internacionalmente em matéria de formação de golfinho que é mais conhecido por seu trabalho em 1960, o Flipper programa de TV, o filme segue uma equipe de mergulho de alta tecnologia em um missão de descobrir a verdade sobre o Programa Internacional de capturar o comércio praticado em Taji, Japão.

- A mídia japonesa não tem muito interesse no assunto. Alguns repórteres me disseram que gostariam de relatar toda a história, mas ela dificilmente será publicada - acusa O'Barry, que agora estrela também um programa no canal de TV a cabo "Animal Planet".

A minissérie "Blood Dolphins" mostra a luta dos ativistas em Taiji e nas Ilhas Salomão, na Oceania, onde matar golfinhos é uma prática de 400 anos e até o dente do cetáceo é considerado valioso.

- Ensinamos aos pescadores atividades alternativas e, pela primeira vez, eles estão dispostos a interromper o massacre. Se isso é possível nas Ilhas Salomão, acredito que também será no Japão - disse o ativista americano, de 70 anos.

O Globo

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