sábado, 4 de setembro de 2010

Bicho-preguiça. Saiba tudo sobre esse animal maravilhoso

Ele dorme durante a maior parte do dia e, mesmo acordado, o que acontece na maioria das vezes à noite, anda bem vagarosamente. Além disso, não desce da sua árvore a não ser que seja extremamente necessário... Não é à toa, que ele leva o nome de bicho-preguiça.

Atualmente são conhecidas seis espécies de bichos-preguiça, das quais cinco são encontradas no Brasil. São animais desengonçados, lentos, se alimentam de folhas, brotos e flores, descem da árvore em que moram apenas uma vez por semana para fazer suas necessidades fisiológicas...

Movimentam-se mais durante a noite, quando a temperatura é mais amena e quando se expõem ao menor número de predadores. Como este grupo de animais sobreviveu até os dias de hoje? Vamos descobrir lendo um pouco mais neste artigo.

Um pouco da evolução


As preguiças surgiram na terra cerca de 35 milhões de anos atrás (final do Eoceno) e pertencem a uma ordem relativamente jovem de mamíferos – Xenarthra.


Apesar de atualmente só existirem seis espécies de preguiças, distribuídas em dois gêneros (Bradypus e Choloepus) já foram catalogadas mais de 100 espécies extintas, classificadas em 35 gêneros. Os fósseis (no caso os esqueletos) destes animais já foram encontrados em partes da Antártica, Américas do sul, Central e do Norte. Algumas das preguiças extintas eram muito maiores do que as atuais e faziam parte da megafauna – constituída por animais considerados gigantes que ocorriam, por exemplo, no sul do Brasil.


A maior de todas as preguiças de que se tem notícia era do gênero Megatherium e viveu durante o Pleistoceno (acredita-se que tenha sido extinta cerca de 10 mil ou 12 mil anos atrás). Com massa estimada de quatro a cinco toneladas (cerca de 70 homens ou um ônibus lotado) e com até quatro metros de altura (quando apoiada em seus membros posteriores) estas preguiças, com certeza, não viviam sobre árvores, mas provavelmente tinham os mesmos hábitos alimentares das atuais.


Darwin em 1832, durante sua viagem no Beagle pela América do Sul, coletou e levou para a Europa fósseis encontrados, por exemplo, em Baía Blanca, na Argentina. Estes fósseis foram estudados pelo anatomista Richard Owen e são considerados uma importante contribuição para o desenvolvimento da Teoria da Evolução.

Quatorze horas de sono
Os bichos-preguiça têm esse nome porque além de dormir por 14 horas diárias, fazem todos os seus movimentos muito lentamente, como se estivessem sempre em câmera lenta. Elas levam um minuto para avançar de dois a quatro metros. São mamíferos placentários (classe Mammalia) de porte médio (entre 2,5 e 6,0 kg e medindo de 48,5 a 70 cm, quando adultos) que vivem no alto de árvores das florestas tropicais desde a América Central até o norte da Argentina. São, portanto, animais de hábito arborícola. Preferem árvores altas, com copa densa e volumosa, cheia de cipós para poderem se dependurar e se camuflar. Seus movimentos lentos e a coloração escura de seus pêlos facilitam a sua camuflagem. Têm garras muito longas e muito fortes que são usadas para subir em árvores e para se dependurar em galhos com facilidade. Apesar de parecerem ameaçadoras as garras não são usadas como defesa. Estes animais passam a maior parte do tempo dependurados nos galhos das árvores, boa parte do tempo de cabeça para baixo.

Como a temperatura corporal destes animais fica sempre muito próxima da temperatura ambiente, variando entre 27º e 34,5ºC, eles são considerados homeotérmicos imperfeitos. Isto é uma maneira de economizar o gasto de energia.

Os bichos-preguiça são animais solitários e cada um tem seu território próprio definido, onde permanece a maior parte da vida. Cada animal costuma ter em seu território uma árvore preferida, na qual passa a maior parte do tempo.

As preguiças fazem quase tudo no alto das árvores: nascem, crescem, se alimentam, se acasalam e, principalmente, dormem... Só descem a cada sete ou oito dias para fazer suas necessidades fisiológicas (urinar e defecar) ou, mais raramente, para trocar de árvore em busca de alimento já que, normalmente, a troca de árvores é feita pelo alto mesmo. No chão as preguiças são ainda mais lentas e ficam muito vulneráveis aos predadores.


Classificação
As preguiças são divididas em duas famílias de acordo com o número de dedos que tem nos membros anteriores (mãos). Os animais da família Bradypodidae têm três dedos e pertencem ao gênero Bradypus, com quatro espécies. A outra família, Megalonychidae, tem duas espécies do gênero Choloepus, inclui os bichos-preguiça com dois dedos. Além disto, os animais da família Bradypodidae são bem mais dóceis do que os da família Megalonychidae. Mais informações nos itens abaixo.

Bradypodidae
Bradypus tridactylus - Distribui-se da América Central até o Norte da Argentina (Venezuela, Bolívia, Rio Orinoco, Guianas e norte do Brasil). Pesa entre 2,5 e 5,5 Kg e mede até 75 cm.
Bradypus torquatus – Esta espécie é endêmica dos remanescentes florestais da Mata Atlântica da Bahia, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Pesa entre 3,6 e 4,2 kg e mede entre 45 e 50 cm. Considerada ameaçada pela IUCN.
Bradypus variegatus - Está espécie ocorre desde Honduras ao norte da Argentina e Brasil. As fêmeas pesam em média 4,2 Kg.
Bradypus pygmaeus – Está espécie foi descoberta e descrita somente em 2001. É endêmica da Ilha Escudo de Veraguas, Arquipélago Bocas del Toro, no Panamá e é a única espécie que não ocorre em território brasileiro. É o menor dos bichos-preguiça medindo entre 48,5 e 53 cm e pesando entre 2,5 e 3,5 kg. É classificada pela União Mundial para a Natureza (IUCN) como criticamente ameaçada, principalmente porque tem uma área de ocorrência muito restrita.

Megalonychidae

Choloepus didactylus - Encontrada da América central até o norte da América do sul, incluindo áreas de florestas do Brasil e do Peru.
Choloepus hoffmanni - Vive em florestas das Américas Central e do Sul da Nicaraguá até o Peru e regiões centrais do Brasil. Pesa até 5,7 kg e mede entre 54 e 70 cm.

Ficha técnica
Ordem - Xenarthra (antiga Edentata)
Famílias - Bradypodidae (três dedos) e Megalonychidae (dois dedos)
Habitat - Florestas tropicais
Distribuição - Américas Central e do Sul
Longevidade - 20 anos na natureza e entre 30 e 40 anos em cativeiro
Gestação - 11 meses
Cuidados com o filhote - 9 meses
Número de filhotes - 1

Espécies e nomes comuns (português e inglês)
Bradypus tridactylus - Preguiça-de-bentinho ou Pale-throated Three-toed Sloth
Bradypus torquatus - Preguiça-de-coleira ou Maned Three-toed Sloth
Bradypus variegatus - Preguiça-comum ou Three-toed sloth
Bradypus pygmaeus - Preguiça-anã ou Pygmy Three-toed Sloth
Choloepus didactylus - Preguiça-de-dois-dedos ou Linné's Two-Toed Sloth
Choloepus hoffmanni - Preguiça-real ou Hoffmann's Two-Toed Sloth


Alimentação e reprodução
As preguiças têm dentes rudimentares ou incompletos quando comparados com os dentes de outros mamíferos, como os humanos. Os dentes das preguiças não têm esmalte, são extremamente fracos e se desgastam com facilidade. As preguiças já nascem com os dentes e para Bradypus torquatus são 18: dez na arcada superior e oito na arcada inferior (Fonte: Azarias).

Os dentes não possuem uma raiz verdadeira, a dentição é permanente e o crescimento é contínuo – à medida que o dente se desgasta com o uso ele vai crescendo um pouco mais. Todos os dentes se parecem com molares e servem para esmagar ou amassar, de preferência tecidos moles. Esta característica de dentes rudimentares molariformes era o motivo pelo qual estes animais faziam parte da antiga ordem Edentata que significava desdentados. Os tatus e tamanduás também fazem parte desta ordem. O nome da atual ordem Xenarthra se deve a presença de uma articulação especial – xenartria - nas vértebras lombares que não ocorre nos demais mamíferos.

Animais com dentes rudimentares como descritos acima não podem ter uma dieta variada, com itens considerados duros ou resistentes. Por isso as preguiças são exclusivamente herbívoras e comem preferencialmente folhas, flores, brotos, talos verdes e frutos, de poucas espécies de árvores. As embaúbas, as ingazeiras e as figueiras são as principais árvores usadas pelos bichos-preguiça para se alimentar e se abrigar.

Os alimentos consumidos pelas preguiças não têm muitas calorias para oferecer, um dos motivos que fazem destes animais tão lentos: eles estão sempre tentando economizar toda a energia possível.

Devido à grande quantidade de tanino que existe nos alimentos das preguiças, o processo de digestão envolve duas etapas distintas: a extração de energia dos alimentos consumidos e um processo de desintoxicação. O aparelho digestivo é parecido com o dos ruminantes (animais com estômago dividido em compartimentos) e possui quatro divisões. A diferença é que os ruminantes como as girafas têm um sistema diferente já que deposita no estômago e depois voltam a mastigar. As preguiças, não. Elas têm uma rica flora bacteriana – as bactérias são realmente quem consegue digerir a massa vegetal ingerida, quebrando a celulose e liberando energia. Todo este processo é muito demorado. O alimento passa lentamente de uma câmara do estômago para a outra. A passagem do alimento digerido pelo intestino – muito longo e que pode representar 30% do peso do animal – também ocorre muito lentamente possibilitando que o máximo de nutrientes e energia seja absorvido pelo organismo do bicho-preguiça.

Como as preguiças conseguem pouca energia dos alimentos que consomem, elas têm o metabolismo muito baixo, aproximadamente 70% inferior aos níveis de metabolismo de outros mamíferos com estrutura parecida (peso e tamanho). Ser lento, no caso das preguiças, é questão de sobrevivência.

Reprodução
Steffen Foerster  istockphoto.com
A mãe de um bicho-preguiça cuida do filhote até os nove meses em média


A maturidade sexual ocorre mais ou menos aos três anos de vida. A cópula (ou ato sexual) dura entre três e cinco minutos. O tempo de gestação varia entre as espécies sendo de seis meses para Choloepus didactylus até 11 meses para Bradypus torquatus. A fêmea grávida gasta um pouco da energia que obtêm para manter sua temperatura cerca de 3ºC acima da do ambiente e garantir um melhor desenvolvimento do embrião. A mãe carrega o filhote nas costas e na barriga, alimentando-o e protegendo pelos primeiros nove meses de vida (variável entre as espécies). O filhote herda parte do território da mãe.

Ameaças e curiosidades
Embora seus principais predadores naturais sejam as harpias, as onças e as jibóias; a maior ameaça à sobrevivência dos bichos-preguiça são os humanos. As preguiças de três-dedos, mais dóceis que as demais, costumam ser procuradas como animais de estimação e são vendidas ilegalmente em feiras livres e na beira de estradas.

Além da captura direta para venda como animais de estimação a destruição progressiva e contínua de seu ambiente natural é outra ameaça para a conservação das preguiças. As florestas tropicais nas quais as preguiças vivem estão diminuindo dia-a-dia. A fragmentação das florestas deixa as preguiças muito vulneráveis.

Muitas vezes as preguiças têm que atravessar de um fragmento para outro em busca de comida e são atropeladas ao atravessarem rodovias ou então atacadas por cães domésticos já que a área residencial tende a avançar em direção as áreas de florestas.

Segundo a União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), uma espécie (Bradypus torquatus) está em perigo e outra (Bradypus pygmaeus) criticamente ameaçada.





Curiosidades








    bicho-preguiça 
    Alexander Rybakov © istockphoto.com
    A vida do bicho-preguiça é praticamente na árvore.
    Nas ranhuras dos pêlos longos dos bichos-preguiça crescem algas verdes e cianofíceas que dão uma coloração esverdeada escura ao animal. Esta cor ajuda o animal a ficar mais parecido com a vegetação e a se esconder melhor.


  • Algumas espécies de lagartas de borboletas vivem associadas aos bichos-preguiça, se alimentando das algas que crescem nos pêlos dos indivíduos.


  • Os pêlos crescem em sentido contrário dos demais mamíferos, facilitando que a água da chuva escorra quando estes animais estão dependurados.


  • Eles nunca bebem água. Toda água de que precisam é obtida através do processo de digestão do alimento consumido.


  • As preguiças conseguem observar todos os ângulos ao seu redor. Isto porque elas conseguem girar a cabeça cerca de 2700 sem mexer o corpo.


  • A movimentação diária destes lentos animais é de aproximadamente 38 metros.


  • Surpreendentemente estes animais são exímios nadadores e, de certa maneira, muito velozes na água.
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