Ratazana é uma das poucas espécies com relacionamento monogâmico.
No Valentine's Day, casais dão de presente animal de pelúcia ou porcelana.
Um roedor pouco conhecido no Brasil está virando símbolo de amor e fidelidade nos Estados Unidos. Casais apaixonados aproveitam o Dia dos Namorados, celebrado no restante do mundo em 14 de fevereiro, para presentear seus companheiros com uma ratazana da pradaria (prairie vole, em inglês) de pelúcia ou porcelana.
Isso porque o animal é uma das poucas espécies de ratos que vivem relacionamentos monogâmicos até que a morte os separe – e além dela. Quando o parceiro morre, o “viúvo” não procura acasalar novamente. Pelo contrário: se algum indivíduo se aproxima da ratazana macho ou fêmea com finalidades sexuais, ela o repele.
Ratazanas da pradaria são fiéis aos parceiros até depois da morte (Foto: Kyle Gobrogge/Zuoxin Wang Lab)
Os responsáveis por essa postura são dois neurotransmissores, chamados vasopressina e ocitocina. O primeiro age mais nos machos e o segundo, nas fêmeas. Entre outras funções, eles regulam a preferência por um determinado companheiro, em detrimento dos demais, e a amizade com outros indivíduos sem fins eróticos.
Esses roedores intrigam os cientistas desde a década de 1990, e o fascínio por eles é ainda maior porque seus primos – a ratazana da montanha (montane vole) e a ratazana do riacho (meadow vole) – são extremamente promíscuos, independentemente do sexo. No entanto, modificações genéticas nessas espécies, com um aumento das doses dos “neurotransmissores do amor”, tornaram-nas fiéis.
Ainda não se sabe exatamente como essas substâncias atuam, mas acredita-se que a sucessão de encontros prazerosos com o amado fixe na memória características dele, como cheiro, textura, aparência e sinais particulares. A partir de certo ponto, esses sinais se tornam tão complexos e particulares que somente aquele ser é capaz de mobilizar o afeto e o desejo do outro.
Apesar do avanço nos estudos, as bases neuroquímicas da fidelidade ainda intrigam os pesquisadores. Segundo o psiquiatra Hermano Tavares, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), esse é um comportamento minoritário na natureza, presente apenas em alguns roedores, pássaros e primatas.
“Nós, humanos, temos tendência à fidelidade, mas ainda não está definido do ponto de vista evolutivo o que é melhor: ter um só parceiro e garantir a segurança e estabilidade da cria ou ser poligâmico e aumentar a variabilidade genética da espécie”, explicou.
Contra as drogas
Outra pesquisa recente feita com ratazanas da pradaria, e publicada na edição de 1º de junho da revista "The Journal of Neuroscience", mostra que animais que tinham um companheiro apresentavam maior resistência para usar anfetaminas.
Machos em relações estabelecidas exibiram menor interesse por drogas se comparados a indivíduos sozinhos. Por outro lado, a exposição repetida à substância desfez o empenho dos animais em formar parcerias ao longo da vida.
Isso indica que ser um casal pode alterar a resposta neurobiológica ao abuso de drogas e diminuir os efeitos de recompensa que elas proporcionam. “As drogas são um mecanismo artificial de gratificação. Quem convive com alguém e é feliz já tem um nível de gratificação satisfatório”, destacou Tavares. Além disso, em humanos, o casamento geralmente reduz comportamentos ilegais e agressivos, além de melhorar a saúde e a expectativa de vida.
Luna D'Alama
Do G1, em São Paulo
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